Neste capítulo desenvolvi peças de natureza diversificada que se tornaram muito significativas, pela orientação de novos caminhos e novas abordagens. Experimentei vários materiais e tentei absorver tudo o que me quiseram transmitir. Muitos destes projectos inseriram-se em desafios lançados a mim própria e outros integrados em colectivos, realizados entre 2003 e 2015, que aceitei voluntariamente e sempre com a perspectiva de contribuir para enriquecer e alargar o imenso caleidoscópio artístico.
Outros Trabalhos
2003 .. 2015
Causa-Efeito
2006 – 4 Pontos de Contacto entre Lisboa e Roma
3 peças de uso corporal
Peças feitas em computador com simulação dos materiais - madeira, fio de couro, prata, esmalte, zircónias.
Realizei este trabalho em torno do Pinóquio apresentando-o em 3 peças de uso corporal, interligadas nas suas relações matéricas e metafóricas.
Na peça 1 trata-se de um pedaço de madeira, ainda não totalmente tratada, representando a humanidade. Condensa em si a ideia inicial que se estende até ao final da história: precisamos de ser esculpidos/descobertos!
Na peça 2, a madeira já tem forma aproximada de corpo, com cabeça e pés; na janela central está o grilo, representando, tal como na história clássica, a consciência de si; está gravado em metal, como se estivesse, a partir de agora, gravado no ser, mesmo que este o esqueça muitas vezes.
Na peça 3, repetindo o corpo da peça anterior, a fada representa a nova vida dada ao ser, transcendendo a matéria condicionada e abrindo-o para uma dimensão oculta a revelar.
Taças
2005 .. 2009
Aprendi a Arte do Couro com o meu marido, Franklin Pereira – www.frankleather.com.
Esta arte aparece no meu trabalho por uma necessidade de experimentação de outros materiais, quer ao nível plástico e artístico, quer ao nível do conhecimento e comportamento das mais diversas matérias, onde o Couro, neste caso, se integra. Por ser um material acessível, vivo e sensível, e de grande maleabilidade, o Couro ofereceu-me a possibilidade de realizar formas que me surgiram a partir da pesquisa e recriação que desenvolvi como designer e joalheira.
Esta arte aparece no meu trabalho por uma necessidade de experimentação de outros materiais, quer ao nível plástico e artístico, quer ao nível do conhecimento e comportamento das mais diversas matérias, onde o Couro, neste caso, se integra. Por ser um material acessível, vivo e sensível, e de grande maleabilidade, o Couro ofereceu-me a possibilidade de realizar formas que me surgiram a partir da pesquisa e recriação que desenvolvi como designer e joalheira.
Primeira manufactura humana, o Couro recebeu todos os ornamentos das Civilizações que o usaram. Na Península Ibérica as Artes do Couro sofreram grandes desenvolvimentos na época Islâmica, Mudéjar e Renascentista. Artisticamente o Couro foi aplicado em Panejamento de parede, calçado de luxo, estofos, frontais de altar, etc. Diversas técnicas foram utilizadas: incisão, relevado, douramento, cinzelagem, pintura e costuras ornamentais.
A Península Ibérica desenvolveu sobretudo o Couro Dourado/Guadameci - em particular na época tardio-medieval e renascentista - e a Cinzelagem, que deu fama além-fronteiras à produção portuguesa. No meu trabalho de recriação utilizo algumas destas técnicas como o Douramento, Cinzelagem e as costuras ornamentais.
A Península Ibérica desenvolveu sobretudo o Couro Dourado/Guadameci - em particular na época tardio-medieval e renascentista - e a Cinzelagem, que deu fama além-fronteiras à produção portuguesa. No meu trabalho de recriação utilizo algumas destas técnicas como o Douramento, Cinzelagem e as costuras ornamentais.
Taças em couro lavrado e dourado
O al-Andalus recebeu, no século X, o músico Ziryab, vindo da corte de Bagdad; além das novidades em receitas culinárias, as boas maneiras da época, novos instrumentos musicais e modas no vestuário, encontram-se referidas bandejas em couro para comer à mesa, que Ziryab introduziu na Corte do Emir Omíada Abd al-Rahman II.
As taças repousam, deste modo, em dados históricos; são, no entanto, uma recriação afastada de fins utilitários; servem de suporte ao cinzel e à folha de ouro, evocando o requinte de um legado ancestral. O trabalho artístico do couro enquadra-se nesta herança; o recurso à folha de ouro e de prata é o reviver duma arte que se extinguiu em Portugal em inícios do século XVIII.
Realidade Ilusória
2007
Cobre, fio elástico e caixa em madeira
Seleccionada pela Delegação Regional do Norte para o Prémio Nacional de Artesanato/2007
dedicado ao tema ”O brinquedo” na Modalidade de Artesanato Moderno (I.E.F.P. Braga)
A intenção de participar neste Prémio surgiu à volta de várias vertentes do tema “Brinquedos”.
- A essência do brinquedo reside na alegria desinteressada, contendo expressão, movimento e cor; esta implícita operação estética é a «primeira iniciação à Arte» (Baudelaire). Essa alegria aumenta quando o brinquedo é fabricado pelo usuário, dando-lhe autonomia e intervenção no seu próprio mundo.
- Foi com uma suprema alegria que descobri os desenhos de Amadeo de Sousa Cardoso numa 1ª visita ao Museu de Amarante em 2005.
Em 1912, Amadeo editou em Paris um álbum “XX Dessins”, de grafismo precioso e exótico, que alguém elogiou como coisas “maravilhosas”, “prodigiosas”.
Jerónimo Doucet – a propósito dos desenhos de Amadeo de Sousa Cardoso – escreve, logo no inicio do prefácio que os desenhos de Amadeo de Sousa Cardoso têm duas qualidades indiscutíveis: são decorativos e surpreendentes; e depois, mais á frente, escreve «muito de extravagância, de inesperado, de misterioso, mais, muito de imaginação, de emoção, de poesia, de talento.
Ele abriu uma estrada na floresta virgem e onde vivem o “TIGRE”, os “GALGOS”, as “FEITICEIRAS”, aquela floresta maravilhosa que ele soube desenhar».
E também foi naquela floresta, duma intensidade surpreendente de preto e branco, que foram escolhidos o “GALGO”, o “FALCÃO” o “CAVALO” e a “LEBRE”, para reconstruir um imaginário, uma poética, um artífice, uma obra.
- A essência do brinquedo reside na alegria desinteressada, contendo expressão, movimento e cor; esta implícita operação estética é a «primeira iniciação à Arte» (Baudelaire). Essa alegria aumenta quando o brinquedo é fabricado pelo usuário, dando-lhe autonomia e intervenção no seu próprio mundo.
- Foi com uma suprema alegria que descobri os desenhos de Amadeo de Sousa Cardoso numa 1ª visita ao Museu de Amarante em 2005.
Em 1912, Amadeo editou em Paris um álbum “XX Dessins”, de grafismo precioso e exótico, que alguém elogiou como coisas “maravilhosas”, “prodigiosas”.
Jerónimo Doucet – a propósito dos desenhos de Amadeo de Sousa Cardoso – escreve, logo no inicio do prefácio que os desenhos de Amadeo de Sousa Cardoso têm duas qualidades indiscutíveis: são decorativos e surpreendentes; e depois, mais á frente, escreve «muito de extravagância, de inesperado, de misterioso, mais, muito de imaginação, de emoção, de poesia, de talento.
Ele abriu uma estrada na floresta virgem e onde vivem o “TIGRE”, os “GALGOS”, as “FEITICEIRAS”, aquela floresta maravilhosa que ele soube desenhar».
E também foi naquela floresta, duma intensidade surpreendente de preto e branco, que foram escolhidos o “GALGO”, o “FALCÃO” o “CAVALO” e a “LEBRE”, para reconstruir um imaginário, uma poética, um artífice, uma obra.
Uma pequena homenagem ao Amadeo de Sousa Cardoso, neste 120º aniversário do seu nascimento, que é celebrado ao longo deste ano.
Nestes múltiplos raciocínios, pareceu-me que o maravilhoso e o lúdico se poderiam animar conjugando-se num brinquedo; daí nasceram quatro taumatrópios.
A palavra “Taumatrópio”significa «que se transforma em algo maravilhoso», foi inventado em 1825 pelo Dr. John Ayrton Paris. É um brinquedo óptico, constituído por um pequeno disco giratório de duas faces.
O princípio deste brinquedo baseia-se na capacidade da retina em reter a imagem, criando, com a sucessão de imagens quando o brinquedo roda, a ilusão de movimento.
Este princípio foi aplicado noutros brinquedos ópticos – zootrópio, fenascistoscópio, “flip book” -, sendo eles os iniciadores do desenho animado e do cinema.
Estas práticas de exibição e utilização destes brinquedos contribuíram para a formação do espectador contemporâneo.
A reconstrução do Taumatrópio possibilitou-me, portanto, repensar como estes brinquedos permitiram consumir uma «realidade ilusória» através de imagens em movimento, sendo que a experiência do real só será possível pela conjugação do conhecimento, do entendimento e da sensibilidade.
Cada taumatrópio apresenta um animal – lebre, galgo, cavalo, falcão – numa posição de movimento em cada face.
A palavra “Taumatrópio”significa «que se transforma em algo maravilhoso», foi inventado em 1825 pelo Dr. John Ayrton Paris. É um brinquedo óptico, constituído por um pequeno disco giratório de duas faces.
O princípio deste brinquedo baseia-se na capacidade da retina em reter a imagem, criando, com a sucessão de imagens quando o brinquedo roda, a ilusão de movimento.
Este princípio foi aplicado noutros brinquedos ópticos – zootrópio, fenascistoscópio, “flip book” -, sendo eles os iniciadores do desenho animado e do cinema.
Estas práticas de exibição e utilização destes brinquedos contribuíram para a formação do espectador contemporâneo.
A reconstrução do Taumatrópio possibilitou-me, portanto, repensar como estes brinquedos permitiram consumir uma «realidade ilusória» através de imagens em movimento, sendo que a experiência do real só será possível pela conjugação do conhecimento, do entendimento e da sensibilidade.
Cada taumatrópio apresenta um animal – lebre, galgo, cavalo, falcão – numa posição de movimento em cada face.
Onirico feminino
2008
Alfinete/Pregadeira
Prata, coral, concha do mar e pérolas
Prata, coral, concha do mar e pérolas
Nesta peça recrio um Mar poetizado, com as suas águas agitadas e adormecidas, um Mar que é criado e recriado num ventre colectivo que carrega em si o gérmen da metáfora e do espírito, das viagens implícitas e trocas culturais.
Deste receptáculo, concha ou microcosmos, emerge a árvore primordial que alimenta a Vida abrindo os seus ramos para acolher o Amor e condensar em si intensidades, desejos, expressões, forças humanas e divinas.
Filamentos da Lua: Colar para uma Deusa
2009
Brocado de seda 100% natural, seda lisa, couro, pedras semi-preciosas e folha de ouro
Nas culturas antigas muitos rituais estavam nas mãos das Mulheres; a par dos Deuses também as Deusas faziam parte do panteão das crenças, muitas vezes habitando árvores, rios e fontes; responsáveis pelo cultivo dos campos, das artes têxteis e da preparação dos alimentos; eram as protectoras dos templos e das casas.
Este Colar, na sua forma e materiais, evoca essas divindades e a importância vital do princípio feminino; é um incentivo para se restabelecer a ordem natural e social; é vital que cesse a destruição da Natureza e a violência contra as mulheres. Conscientes do seu valor e da sua força, as mulheres de todos os lugares e crenças deverão sair dos seus esconderijos e projectar a sua luz e o seu amor para apaziguar e iluminar a Terra.
Na rota do amor
2011
Escultura
Couro, prata, latão, brocado de seda, labradorite e ferro
Couro, prata, latão, brocado de seda, labradorite e ferro
A maleabilidade do couro permitiu criar uma base, um suporte em articulação com a sede e a prata. Esta peça/escultura pretendeu valorizar espaços receptivos, mas ao mesmo tempo espaços íntimos.
É um habitáculo, um lugar íntimo, de congeminações mentais e criativas, de fruição, de contemplação e de descanso, valorizado pelos ornamentos em prata: o pássaro e a folhagem que o rodeia.
É um habitáculo, um lugar íntimo, de congeminações mentais e criativas, de fruição, de contemplação e de descanso, valorizado pelos ornamentos em prata: o pássaro e a folhagem que o rodeia.
No exterior vê-se a matéria orgânica e a cor radiosa das sedas que viajaram e continuam a viajar no nosso mundo imaginário, mas também nas relações comerciais, humanas e artísticas.
Do interior para fora, sem ser visto - representada pela gelosia em prata -, enfatiza a intimidade da 23 criação como busca individual e, ao mesmo tempo, de si para o Outro.
Do interior para fora, sem ser visto - representada pela gelosia em prata -, enfatiza a intimidade da 23 criação como busca individual e, ao mesmo tempo, de si para o Outro.
Vacceatotem
2012 - Vª Exposição VacceaArte
Escultura
Couro, prata, chifre de cabra, madeira, pele e folha de ouro
Couro, prata, chifre de cabra, madeira, pele e folha de ouro
As experiências com o mundo do sagrado expressam a necessidade do ser humano em manter um equilíbrio através de rituais e de símbolos integradores sempre presentes nas culturas ancestrais. Esta procura incessante da transcendência leva-nos a repensar a nossa identidade e uma resposta mais além.
A presença da cerâmica no uso diário e na necrópole dos Vaccea enfatiza duplamente esta actividade: utilidade e contentor de mitos da vida pós-mortem, em ritual final. O ornamento obedece às concepções cosmogónicas, marcante da pertença a uma cultura, fé e status social - figuração e motivos geometrizantes mostram-se portadores de maneiras de viver, sentir e pensar.
A presença da cerâmica no uso diário e na necrópole dos Vaccea enfatiza duplamente esta actividade: utilidade e contentor de mitos da vida pós-mortem, em ritual final. O ornamento obedece às concepções cosmogónicas, marcante da pertença a uma cultura, fé e status social - figuração e motivos geometrizantes mostram-se portadores de maneiras de viver, sentir e pensar.
Nesta peça, tomei em consideração a funcionalidade da cerâmica, receptáculo do alimento e também das cinzas da cremação – a forma da tigela é também arquétipo do receber, das mãos receptoras da água; os chifres, invocando os pés dos caldeirões metálicos, usados na lareira dos nossos avós, relembram também o contacto estreito com o mundo natural, a pastorícia e a caça. Por sua vez, o Totem lavrado com círculos concêntricos e entrançados, presentes na ponta da bainha da espada de um guerreiro, eleva-se como vínculo de “união tribal” que o ornamento simbolicamente representa. Toda a peça assenta sobre uma pele, conferindo-lhe ainda mais um lugar particular no ritual.
Celebrar a Vida
Levanta o teu copo e brindemos!
Pins
2013 - VI EDIÇÃO DO VACCEARTE
Prata
Brindo por los aparecidos
y los desaparecidos
brindo por el amor que se desnuda
por el invierno y sus bufandas
por las remotas infancias de los viejos
y las futuras vejeces de los niños
brindo por los peñascos de la angustia
y el archipélago de la alegria
brindo por los jóvenes poetas
que cuentan las monedas y las sílabas
y finalmente brindo por el brindis
yel vino que nos brindan- Mário Benedetti, “Brindis”
El porvenir de mi passado.
A arqueologia tem um papel de catalisador na sociedade actual.
Ela estuda as sociedades e as culturas do passado, fazendo-nos reflectir,
e colocando-nos à disposição peças recuperadas nas escavações.
Depois, contemplamos e desfrutamos esses objectos em museus, em livros, etc.
Para melhor entender uma civilização, é necessário considerar o ambiente doméstico, o modo de vida e sustentabilidade, os gostos, estudar os seus objectos de cerimónia, ou de celebração. Há uma infinidade de objectos pertencentes às comunidades ibéricas ribeirinhas que valorizavam as relações entre elas. O que me interessa neste trabalho é expressar e valorizar o papel do vinho como elemento de coesão social nas sociedades ibéricas ribeirinhas, de manifestações de poder, de expressão de uma ideologia, e também como símbolo identitário.
Ela estuda as sociedades e as culturas do passado, fazendo-nos reflectir,
e colocando-nos à disposição peças recuperadas nas escavações.
Depois, contemplamos e desfrutamos esses objectos em museus, em livros, etc.
Para melhor entender uma civilização, é necessário considerar o ambiente doméstico, o modo de vida e sustentabilidade, os gostos, estudar os seus objectos de cerimónia, ou de celebração. Há uma infinidade de objectos pertencentes às comunidades ibéricas ribeirinhas que valorizavam as relações entre elas. O que me interessa neste trabalho é expressar e valorizar o papel do vinho como elemento de coesão social nas sociedades ibéricas ribeirinhas, de manifestações de poder, de expressão de uma ideologia, e também como símbolo identitário.
Nas necrópoles encontraram-se muitos artefactos para beber que se encarregavam de reforçar a posição de poder do grupo, e ao mesmo tempo fomentavam a solidariedade e comunhão dos presentes perante o momento da morte.
O poder identitário da cultura da vinha prolongou-se pelos séculos, reforçado pelas vinhas do Douro, a faina fluvial e a poética do ambiente.
O reconhecimento deste património da cultura da vinha reforça as relações entre as comunidades do Duero e do Douro estabelecendo pontes e contactos. Posso dizer que esta cultura perpetuou-se no tempo e acrescenta um valor intrínseco ao Vinho, que ainda hoje está presente em cerimónias, tertúlias, convívios familiares e de amigos. Estes Pins inspiram-se nos recipientes de cerâmica decorada para beber o vinho, que se transformam em artes do metal e ornamento.
O poder identitário da cultura da vinha prolongou-se pelos séculos, reforçado pelas vinhas do Douro, a faina fluvial e a poética do ambiente.
O reconhecimento deste património da cultura da vinha reforça as relações entre as comunidades do Duero e do Douro estabelecendo pontes e contactos. Posso dizer que esta cultura perpetuou-se no tempo e acrescenta um valor intrínseco ao Vinho, que ainda hoje está presente em cerimónias, tertúlias, convívios familiares e de amigos. Estes Pins inspiram-se nos recipientes de cerâmica decorada para beber o vinho, que se transformam em artes do metal e ornamento.
Colares de inspiração africana
Caminho como um rio
2014 - VIIª Edição Vaccearte
Placa para mural
Couro, prata e fio de latão
Couro, prata e fio de latão
Como construimos a nossa própria história?
Que caminhos trillamos?
Que reflexão fazemos do nosso trabalho e dos caminhos que decidimos trilhar?
Sobre a Península Ibérica ergue-se uma oval / ovo (algo que nasceu ou que está sempre a nascer desde que somos humanidade) elevada ou colocada acima da terra também assinalando que todas as culturas que vivem para além da simples sobrevivência criam um corpus de ligações físicas, mentais e simbólicas, e um património imaterial e material, algo de extrema importância: o contacto estreito com o mundo natural leva à inclusão de animais e homens guerreiros nas estéticas de um povo.
Teremos deste modo a criação de uma simbologia que tem tanto de mistério como de afirmação de uma identidade.
Teremos deste modo a criação de uma simbologia que tem tanto de mistério como de afirmação de uma identidade.
A serpente e o guerreiro simbolizam esse microcosmos.
Esta oval, colocada no território vacceo, em prata, construída com raios em várias direcções, dando a ideia que todo o território ocupado estabelece laços, liga-se a um mistério maior - à transcendência buscando formas próprias de desenvolvimento, estéticas, língua, artesanato e rituais -, transversal a toda a humanidade. A rede colocada na oval simboliza a ligação aos outros, a outros mundos; os caminhos trilhados são sempre desejos de espalhar cultura e ao mesmo tempo de a receber. Neste contexto desenvolvo elos de ligação, confluências, pontes para o meu próprio percurso.
Esta oval, colocada no território vacceo, em prata, construída com raios em várias direcções, dando a ideia que todo o território ocupado estabelece laços, liga-se a um mistério maior - à transcendência buscando formas próprias de desenvolvimento, estéticas, língua, artesanato e rituais -, transversal a toda a humanidade. A rede colocada na oval simboliza a ligação aos outros, a outros mundos; os caminhos trilhados são sempre desejos de espalhar cultura e ao mesmo tempo de a receber. Neste contexto desenvolvo elos de ligação, confluências, pontes para o meu próprio percurso.
Cosmovisão Vaccea
2015 - VIIª Edição Vaccearte
Colar
Couro e contas de cerâmica
Couro e contas de cerâmica
Da variedade das representações da fauna doméstica vaccea, escolhi o cavalo, a cabra, o porco, o boi e o galo. E da fauna selvagem integrei a serpente, o veado, o peixe e o lobo.
A partir desta iconografia animal criei um círculo e dividi-o em 12 partes. Cada parte representa um animal, e as rodas solares, encimadas por pássaros, marcam os quatro pontos cardeais, um dos quais integra a serpente, como parte central do colar.
A partir desta iconografia animal criei um círculo e dividi-o em 12 partes. Cada parte representa um animal, e as rodas solares, encimadas por pássaros, marcam os quatro pontos cardeais, um dos quais integra a serpente, como parte central do colar.
Esta disposição dos animais à volta de um círculo aproxima-me do mundo que rodeava os povos vacceos, e este colar é construído de acordo com as suas crenças mágico- religiosas e a sua mentalidade simbólica, expressando algo muito mais abrangente e fecundo – uma criação cosmológica.
Invocação
2015 - Rota do Infante, na comemoração dos 600 anos da partida para Ceuta
Medalhão/Colar
Prata, moldura em forma oval, cópia de mapa em papel, água marinha, fita e cordão de algodão
Prata, moldura em forma oval, cópia de mapa em papel, água marinha, fita e cordão de algodão
A forma oval da peça indicia algo que já terá nascido ou que está em gestação.
Á volta está uma fiada de pérolas (a alma portuguesa) pousadas numa cópia de um mapa anónimo português, circa 1470. Numa estrutura acima do mapa, encontra-se uma rosa-dos-ventos. No centro desta está cravada uma pedra preciosa – água marinha - localizada na cidade invicta, irradiando e convergindo para o mundo, a partir de oito flores-de-lis. Estas assumem um carácter protector do que está para vir.
Á volta está uma fiada de pérolas (a alma portuguesa) pousadas numa cópia de um mapa anónimo português, circa 1470. Numa estrutura acima do mapa, encontra-se uma rosa-dos-ventos. No centro desta está cravada uma pedra preciosa – água marinha - localizada na cidade invicta, irradiando e convergindo para o mundo, a partir de oito flores-de-lis. Estas assumem um carácter protector do que está para vir.
No poema “Infante” diz Fernando Pessoa: “Cumpriu-se o Mar e o Império se desfez”. Era esta a primeira missão, desvendar o mundo, e ela chegou ao seu termo.
Mas falta ainda tudo. Falta “cumprir-se Portugal”. Portugal, como diz Fernando Pessoa, à espera que se cumpra o Império Espiritual, que será, esse sim, eterno. Portugal é a sua língua, cultura, espírito e alma. Se ele diz que falta cumprir-se Portugal, quer dizer que falta cumprir-se o destino glorioso (e imaterial) da alma, já que se desfez o destino material do corpo. A ser verdade o que diz Pessoa, faço aqui uma invocação com este Medalhão / Colar.
Mas falta ainda tudo. Falta “cumprir-se Portugal”. Portugal, como diz Fernando Pessoa, à espera que se cumpra o Império Espiritual, que será, esse sim, eterno. Portugal é a sua língua, cultura, espírito e alma. Se ele diz que falta cumprir-se Portugal, quer dizer que falta cumprir-se o destino glorioso (e imaterial) da alma, já que se desfez o destino material do corpo. A ser verdade o que diz Pessoa, faço aqui uma invocação com este Medalhão / Colar.